PAPA CANONIZA 30 BRASILEIROS, MÁRTIRES E RIO GRANDE DO NORTE PASSA A SER DESTINO TURÍSTICO RELIGIOSO MUNDIAL

Prelates sit near a statue of St Peter during a holy mass for the canonization of 35 new saints on October 15, 2017 at St Peter's square in Vatican. Pope Francis celebrates a Holy Mass today with canonizations of 35 new saints, including thirty martyrs murdered in Brazil in the 17th century by Dutch Calvinists, three Mexican teenagers who died in the 16th century, and Italian Capuchin Angelo d'Acri and the Spanish priest Faustino of the Incarnation. / AFP PHOTO / Tiziana FABI
Em 1645, um grupo de católicos foi arrastado para um trecho do rio Potengi, perto de Natal, no Rio Grande do Norte. Seus algozes, soldados holandeses e índios tapuias, lhes arrancaram línguas, deceparam pernas e braços e partiram crianças ao meio.

Enquanto tinha o coração arrancado pelas costas, umas das vítimas Mateus Moreira repetia: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”, segundo relato da Igreja Católica.

Neste domingo (15), o papa Francisco o canonizou em uma missa na Praça de São Pedro, juntamente com as demais vítimas e outras figuras ligadas à violenta história da evangelização na América Latina.

“Não se pode dizer ‘Senhor, Senhor’, sem viver e colocar em prática a vontade de Deus. Necessitamos nos revestir a cada dia com seu amor, de renovar a cada dia a escolha de Deus. Os santos canonizados hoje, sobretudo os tantos mártires, indicam esse caminho. Eles não disseram ‘sim’ ao amor apenas com palavras, mas com a vida, e até o fim”, ressaltou o papa na cerimônia de canonização.

O episódio, conhecido como massacre de Cunhau e Uruaçu, ocorreu no Rio Grande do Norte durante a dominação holandesa na região. Suas vítimas se tornaram os primeiros mártires do país.

O grupo habitava as duas únicas comunidades paroquiais existentes no local. Pela pesquisa da igreja potiguar, os holandeses, que eram calvinistas, não admitiam a prática do catolicismo nos territórios invadidos.

A canonização encerra um processo de investigação que durou quase três décadas e impõe agora, à igreja, o desafio de tornar conhecida a história dos mártires –não tão difundida nem mesmo no próprio Nordeste.

O relato dos massacres só começou a ser divulgado no final dos anos 80, quando se iniciou a pesquisa para o processo de beatificação, consumado em 2000.

Em suas pesquisas, o monsenhor Francisco de Assis Pereira (1935-2011) defendeu para os teólogos do Vaticano que o caso potiguar se encaixava nas três características para beatificar vítimas de um massacre: morte violenta, imposta por ódio à fé e livremente aceitas pela vítima.

O processo envolveu a consulta a mais de 50 autores de história no país e na Europa.

A base do trabalho são autores portugueses, entre eles frei Manuel Calado. Ele escreveu “O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade” em 1645 (ano dos massacres) e 1646, narrando relatos de sobreviventes e testemunhas oculares dos episódios.

Com a canonização, a igreja quer melhorar os locais de adoração dos novos santos, para que “os peregrinos sejam tratados e acolhidos com todo o conforto possível”, disse o arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha.

Um deles é o Santuário dos Mártires, erguido no provável local de um dos assassinatos, na zona rural de São Gonçalo do Amarante.

Pela pesquisa, mais de 150 pessoas morreram nos dois ataques, mas só 30 foram identificadas e, agora, fazem parte da extensa lista de santos da igreja. Ao todo, 28 mártires nasceram no Brasil, um era português e outro possivelmente francês ou espanhol.

O Rio Grande do Norte apresentou neste domingo (15) ao Brasil e ao mundo 30 santos através da Canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. O estado torna-se, a partir de hoje, o único a ter 30 santos declarados pela Igreja Católica.
Milhares de pessoas de vários países estiveram presentes à Praça São Pedro, no Vaticano, na missa que teve início às 5h (hora de Brasília), celebrada pelo Papa Francisco.
O Governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, a primeira-dama e coordenadora do Grupo de Trabalho da canonização junto ao Governo do Estado, Julianne Faria. “O Rio Grande do Norte está no centro da atenção mundial da Igreja Católica com os 30 santos Mártires Potiguares. Além de uma grande graça aos católicos, nosso Estado se torna um destino do turismo religioso para o mundo todo”, declarou o governador.

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